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Um novo paradigma ambiental

Inauguração de um paradigma ambiental:

Theofilo

Por Theóffillo Lopes*

Estamos em transição de paradigma. Nos acostumamos ao ritmo acelerado do mundo globalizado na era pós-moderna. Desaprendemos a escutar, a parar, a esperar, a descansar, a repensar.

Estamos vindo de uma crise civilizatória, concebida no pensamento capitalista de propriedade privada, no acúmulo de capital financeiro, cultural, tecnológico, humano. Humano. Viramos capital, viramos dados. A crise estabelecida na modernidade, paralela ao capitalismo, não é apenas financeira, é ética, social, ambiental, estética, moral, paradigmática.

Vivemos sob um paradigma de individualidade, com apologia e ênfase na meritocracia, no liberalismo, no consumo. Dentro de uma racionalidade que externaliza os processos sociais e coletivos em detrimento de lucros, mas que internaliza as externalidades do sistema que possam ser atribuídos de valor (vide o discurso verde). Uma individualidade que ratifica a diferença, não como um processo de diversidade ou multiculturalidade, mas num processo recursivo de diferenciação indiferente, que subjuga tudo aquilo que não é padrão e o exclui.

Fomos obrigados a parar. A natureza nos obrigou a parar. Uma das externalidades do sistema que sofre gradativamente pela exploração irracional de seus recursos e que demonstra incessantemente seu colapso iminente nos colocou em quarentena. Temos a oportunidade de repensar o paradigma dominante de modo de vida, na busca de um paradigma ambiental. Estamos fazendo? Não sei se temos bons sinais.

Apesar das várias demonstrações da diminuição de algumas poluições, como a do ar, dos rios, dos mares, onde temos visto águas transparentes e uma recuperação da camada de ozônio, temos assistido um aumento da produção de lixo e utilização de energia. Estamos realmente refletindo sobre nosso modo de vida, em consonância com um paradigma ambiental ou estamos sendo obrigados a ficar em casa preocupados somente com nosso bem estar?

Paramos. Até certo ponto temos visto um movimento social de solidariedade aos que mais precisam. Vemos ainda a ressignificação de alguns valores que pareciam estar perdidos, que se aproximam de um paradigma ambiental, como a necessidade de assegurar saúde para todos, de valorização dos profissionais não somente desta área, mas também daqueles que estão na base de todo processo educacional, os professores. Assistimos também um processo de reconhecimento do papel da ciência e de não economizar esforços nem investimentos nela.

Estamos em transição. Para onde essa transição vai nos levar, talvez seja cedo para afirmar. É certo que o modelo de capitalismo globalizado que temos assistido nas últimas décadas vem ruindo, e essa pandemia desnudou as mazelas, explorações, espoliações e deteriorações dessa racionalidade capitalista. Que nova racionalidade encontraremos no final dessa transição, é difícil mensurar. Mas gostaria de pensar, em coerência com um paradigma ambiental, seguindo o raciocínio de Enrique Leff, sociólogo mexicano, que podemos chegar numa racionalidade ambiental,

em todos os seus aspectos, ecológico, social, cultural, ético, estético, tecnológico, ideológico, político, onde, segundo o mesmo, nos levaria a preservação, conservação e valorização da diversidade biológica, ecológica e cultural; satisfação das necessidades básicas e aumento da qualidade de vida da população; prevenção de riscos socioambientais; acesso e apropriação social da natureza de forma sustentável, vinculada a distribuição de riqueza e poder; desenvolvimento de tecnologias limpas, ecológica e culturalmente apropriadas; participação social nas tomadas de decisões; e valorização de aspectos qualitativos do desenvolvimento humano acima de aspectos quantitativos de crescimento econômico (LEFF, 2009).

 

Referências

LEFF, Enrique. Ecologia, Capital e cultura: a territorialização da racionalidade ambiental. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

 

*Pedagogo da UFPB e professor de educação básica I da prefeitura de João Pessoa/ Especialista em Educação Ambiental/  Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente/ Doutorando em Educação.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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