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O carnaval como máscara e fantasia

O carnaval como máscara e fantasia*

 

Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP) Professor do Programa de de Pós-Graduação em Sociologia (Ufal)

Três coisas bem associadas: carnaval, máscara e fantasia. Na atual configuração sociocultural as três coisas me parece ainda mais inseparáveis. Mais que casadinho e queijo com goiabada.

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A palavra máscara, tem duas origens. Vem do Latim “mascus” que significa fantasma; e do árabe “maskharah” que significa palhaço ou homem disfarçado. Já a palavra carnaval possivelmente vem do latim clássico “Carnen Leváre”, substantivo que significa “abstenção de carne”. Seria uma alusão ao fato de que no carnaval seria os últimos dias para comer carne antes da quaresma, ou talvez significando a “despedida do corpo”, sendo os dias separados para satisfazer as necessidades carnais antes do período religioso. A palavra “fantasia” tem sua origem do verbo Grego “Phaínein”, que significa “fazer aparecer”. É por meio da fantasia que faz-se notado. 
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A máscara está associada a representação de um personagem criado para entretenimento. É justamente nesta festa que as máscaras são muito usadas. Um dos mais renomados antropólogos brasileiros, Roberto DaMatta, afirmou que é no carnaval que surge a possibilidade de grupos e classes sociais distintas se encontrarem, constituindo-se uma festa para todos; “(..) um cenário e uma atmosfera social onde tudo pode ser trocado de lugar (…)”. É nesse período que um gari pode usar máscaras. Representar aquilo que ele de fato gostaria de ser, são sabendo que é um mascarado, ou, em árabe, um palhaço que faz uns poucos rirem; rirem de sua ilusão. Época de mascarar seu fracasso, na maioria das vezes imposto sobre ele por nosso país do carnaval. É também nesse período, como em muitas outras oportunidades, que o poder público marcara a realidade sob as máscaras tradicionais do pão e circo.
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No carnaval todos podem usar suas fantasias. O mais excluído e fraco indivíduo pode se fantasiar de rei, de empresário, de jogador de futebol bem sucedido e o que mais desejar em seus sonhos adquiridos em noites de insônia. Dizia DaMatta, que “[…] por tudo isso, o carnaval é a possibilidade utópica de mudar de lugar, de trocar de posição na estrutura social”. É de fato o momento da fantasia. De tirá-la do armário e do baú do pensamento e trazer para a rua, como se tudo fosse possível. Fantasias e mais fantasias… pena que só fantasias. Fantasias confeccionada pela ideologia do carnaval; a festa da carne que se consome antes do dia santo chegar… antes do indivíduo partir para os braços do seu Criador. Até lá, a carne vai sendo consumida nas brasas do descaso público, no que chamam de inferno presente… amanhã, quem sabe não é dia santo?
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Em meio ao entretenimento carnavalesco, os foliões vão usando suas máscaras e fantasias, dando formato a maior festa brasileira de representação da realidade fantasiosa… Ali, carnaval, máscara e fantasia são mais inseparáveis que casadinho e queijo com goiabada.
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• Texto originalmente publicado no Jornal Hora Aghá. 10 de Fev. de 2013.
Como citar este texto:
BODART, Cristiano das Neves. O carnaval como máscara e fantasia. Jornal Hora Aghá. 10 fev. 2013.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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