Consciência de Classe: Para entender de uma vez o que é

consciência de classe
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O conceito de consciência de classe

Por Cristiano das Neves Bodart

Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP) Professor do Programa de de Pós-Graduação em Sociologia (Ufal)

Alguns conceitos são centrais na Sociologia; dentre eles está “consciência de classe”. Para compreender esse conceito é necessário entender outros que o orbitam, que compõe, juntamente com outros, a teoria marxiana. São eles “classes sociais” (veja AQUI), “ideologia” (veja AQUI) e alienação (veja AQUI).

De acordo com a teoria marxiana – aquela desenvolvida por Karl Marx –  as pessoas ocupam lugares diferentes na estrutura social, num sistema de estratificação. Na sociedade capitalista, grosso modo, uns poucos são donos de meio de produção (fabricas, bancos, propriedades rurais, etc.), enquanto que outros por não ter meios de produção vendem sua força de trabalho (são os assalariados) para sobreviver. Observando essa diferença, Marx passou a compreender a sociedade a partir de uma categorização denomina classes sociais. A partir dessa teoria – e com o desenvolvimento de outras formas de trabalho – o conceito foi se desenvolvendo para além da definição de quem tem ou não meios de produção, ainda que quase sempre o fator socioeconômico fosse usado para a classificação dos indivíduos em estratos sociais. Os estratos nas sociedades capitalistas são denominados classes.

Retomando Marx, se observa que classes mais abastadas (chamada por Marx de burguesia), além de detentoras dos meios de produção – que resulta em poder econômico – são, também, possuidoras do poder político. Buscando manter de domínio, seus privilégios e, sobretudo, a exploração sobre os proletariados (assim Marx chamava os assalariados) essas classes produzem falsas ideias que buscam, junto aos proletários, legitimar suas posições privilegiadas na estrutura social. Os proletários, por sua vez, manipulados pelas falsas ideias criadas pela burguesia (o que Marx chamou de ideologia) acabam não se rebelando e não reconhecendo sua situação de exploração, ao menos não a ponto de se rebelar contra o status quo.

Por meio da incompreensão de seu estado de explorado (o que Marx chamou de alienação) e de apropriação da riqueza que produz pelo patrão (o que foi denominado de mais-valia) o trabalhador acomoda-se, não reconhecendo a possibilidade de livrar-se das amarras da exploração burguesa. Trata-se do não reconhecimento de sua situação e da condição de muitos de seus semelhantes, o que não lhe possibilita compreender que é explorado e que pode, se organizado com outros indivíduos na mesma situação de classe, mudar os estados das coisas.

O reconhecimento de que pertence a uma classe de explorados Marx denominou de consciência de classe. Essa envolve dois tipos ou estados de consciência: “a consciência de si” e a “consciência para si”. Ou ainda, “classe em si” e “classe para si”.

A consciência de si é o reconhecimento de sua classe enquanto grupo subjugado no contexto do sistema capitalista. A classe é antes de tudo, um “ser” social e para se constituir como tal precisa da consciência de si mesma, reconhecendo suas potencialidades e fragilidades enquanto grupo social. A consciência de si é o estado de rompimento com a visão fatalista de mundo, a ruptura com o estado de alienação e o desenvolvimento de consciência dos sentimentos e sofrimentos alheios, identificando-se com outros sujeitos em mesma situação. Em outros termos, é a consciência que passa a ser capaz de apreender a realidade que cerca o sujeito. Esse sentimento abre espaço para emergência de uma consciência de classe “para si”.

A consciência para si envolve a percepção de que a organização enquanto classe unida é a chave para a ação política em direção à transformação do estado das coisas, do status quo. É importante mencionar que o grau de consciência de classe em si e para si possuem diferentes intensidades, mas sem consciência de classe em si não é possível, segundo Marx, a produção de uma consciência para si. Ambas as consciências compõem, como denomina a teoria marxiana, a consciência de classe.

 

Referências

Meszáros, I. A teoria da alienação em Marx. Trad. de Isa Tavares. São Paulo: Boitempo, 2006.

Marx, K. Manuscritos econômico-filosóficos. Trad. de Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo, [1844] 2004.

Marx, K. O 18º Brumário de Louis Bonaparte. (2a Ed). Lisboa: Avante, [1852] 2003.

Marx, K. e Engels, F. A ideologia alemã. Trad. de Silvio Donizete Chagas. São Paulo: Centauro, [1845] 2005.

 

Forma de citar este texto:

BODART, Cristiano das Neves. O conceito de consciência de classe. Blog Café com Sociologia. 2018. Disponível em:<https://cafecomsociologia.com/consciencia-de-classe/>. Acessado em: mês e ano de acesso.

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

4 Comments

  1. Obrigada. Agradeço pela elucidação. Mas gostaria que você abordasse o conceito de “Experiência” em contrapartida ao conceito de “Consciência de Classe”. Poderia?
    Tendo como conflito a questão:Por que tantas pessoas sofrem com a pobreza, com a exploração e ainda assim não despertam a Consciência?

    • porque as pessoas tratam políticos como ídolos e não como funcionário do povo enquanto aumentaram o salario do proletariado em 18 reais aumentaram o deles em 16 mil e mesmo assim a galera ficou batendo palma só isso

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