Carta de um antropólogo perdido

Por Roniel Sampaio Silva
Acordei, hoje, na manhã e me
deparei com uma das experiências mais marcantes que um homem de 40 anos pode
ter. Saí de minha terra natal rumo a uma cultura totalmente desconhecida, estava
envolto por um ambiente inóspito e hostil. O lugar era envolto por uma bruma
espessa a qual me entorpecia e me embaçava a visão. Subitamente um nativo me
barrou, perguntando-me algo sobre uma contagem, ele olhava para o pulso, ao
passo que me indagava sobre perguntas as quais não sabia responder.
Outros nativos pareciam estar à
procura de algo. Eles se deslocavam em multidões para salas movediças onde
havia ilustrações de pessoas trajadas de alegrias, algumas delas quase sem
roupa. Muitos destes
desenhos eram acompanhados de símbolos que eu não
conseguia compreender. Andando por estes estranhos me indaguei: Quem são estas
pessoas? Muito assustado, resolvi explorar mais o local para descobrir mais
sobre sua cultura.
Rumei em direção à multidão, perdido
entre eles. Observei que as vestimentas eram das mais variadas e algumas não
condiziam com as condições climáticas. Percebi que este povo aparentava ser muito
supersticioso, uma vez que, eles carregavam consigo um amuleto o qual observavam compulsoriamente; pareciam querer receber auspícios de oráculos… Algumas pessoas utilizavam uma
espécie de concha sobre os olhos a fim, possivelmente, de destacar-se sobre as
demais.
Havia templos espalhados por toda
aldeia. Alguns símbolos eram enfatizados não apenas nos templos, e sua
repetição nestes lugares indicava que o local era uma espécie de santuário. As
pessoas se dirigiam a estes locais e reverenciava os tais símbolos. No ensejo entregava
oferendas para sacerdotes uniformizados para receberem graças na forma de
escambo. Antes disso acontecer, havia um momento de reverências às estátuas em
redomas de vidro, as quais as os nativos sempre interessavam em se parecer num
gesto de devoção. Algumas destas pessoas carregavam consigo artefatos que
lembravam folhas e lascas e utilizavam destes estranhos materiais como tributo
às diversas divindades cultuadas nestes templos.
As mulheres caminhavam livremente
entre os homens sem que suas famílias pudessem orientá-las. Elas, ao invés
de cuidar da prole, seguiam sem destino junto à multidão desregrada e
desorientada.  Por esta razão, em muitos
casos, cabia as crianças serem educadas por amuletos com imagens de estranhos.
Como as pessoas poderiam confiar seus filhos a estranhos? As crianças eram
deixadas a mercê de manifestações espirituais caóticas e não havia sequer um
pajé para protegê-las.
Como se não bastasse, os idosos
eram tratados com desdém e sua sabedoria parecia não ser atrativa o suficiente
para competir os tais amuletos, dos mais variados tamanhos e cores. Em contrastes
com as cores vivas desses, as florestas pareciam mortas e desgastadas; os rios
pareciam emanar uma atmosfera de agonia. Não sei como eles poderiam caçar e
pescar num ambiente como aquele. Como as pessoas se alimentavam? É um absurdo
imaginar que as pessoas não se sentissem pertencentes ao próprio local em que
moravam.
Por fim, cheguei a uma conclusão: esta
sociedade está fadada à ruína. Eu, representante real do povo Thearpam estou convencido de que aqui em
São Paulo há poucos dos ideais que conhecemos como civilizatórios. Preciso sair
urgentemente daqui, alguém pode ajudar?
Questões pare reflexões:
Como é possível refletir sobre a
noção de estranhamento a partir do texto?
Em que trecho fica claro a ideia
de etnocentrismo?
Como o texto pode nos ajudar a
refletir sobre relativismo cultural?
Como provalemente era vista a
mulher na cultura Thearpam e como
esta visão pode ser contrastada com a nossa sociedade?
A partir do texto, tente
estabelecer como as diferentes culturas conceituariam civilização e progresso.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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