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Etnofotografia e Imagem

etnografia

Etnofotografia é um termo que se refere à fotografia para fins de análise cultural em umas perspectiva antropológica.  Tais fotografias podem ser produzidas inicialmente com essa finalidade ou não, por antropólogos ou não-antropólogos. A etnofotografia é uma subárea da antropologia visual e se concentra no uso da fotografia como um meio de coletar dados e informações sobre as sociedades humanas.

Os etnofotógrafos geralmente trabalham em colaboração com as comunidades em que estão fazendo a pesquisa e buscam representar as perspectivas e os pontos de vista dessas comunidades de maneira justa e precisa. Eles também podem utilizar técnicas de análise de imagem, como análise de conteúdo e análise de representação, para compreender o significado das imagens e o contexto em que foram criadas.

Etnofotografia: Indicação de leitura

Gostaria de indicar a leitura de um artigo bem interessante. Para os professores de plantão que desejam aplicar a sugestão do post Atividade de Sociologia: Imagem e Cotidiano será muito útil.

Trata-se do artigo intitulado “A FOTOGRAFIA COMO RECURSO NARRATIVO: PROBLEMAS SOBRE A APROPRIAÇÃO DA IMAGEM ENQUANTO MENSAGEM ANTROPOLÓGICA”, de Nuno Godolphim

Resumo

 Analisando as características da mensagem fotográfica e etnográfica, este paper procura refletir sobre algumas das formas possíveis de apropriação da fotografia na construção de “textos” de caráter etnográfico.

Palavras-chave: fotografia, imagem, mensagem antropológica, narrativa.

Trecho do artigo:

“[…] a antropologia não se pode dar o luxo dessa economia, pois seu objeto de estudo reside exatamente nesse “nó” de códigos. Sua atividade consiste em traduzir para os códigos do leitor os códigos do ator. E, para tanto, o
etnógrafo procura decodificar os códigos do ator numa linguagem intermediária, que faça a passagem de um código para o outro. Assim, é preciso encontrar fórmulas para destacar a conotação primeira que levou o etnógrafo a produzir aquela foto e selecioná-la dentro um conjunto de fotos possíveis. Para tanto é preciso compartilhar dos códigos de leitura dessas imagens. Antes de seguir adiante façamos um pequeno teste. Pegue-se, por exemplo, a foto a seguir. Tente identificar qual a intenção do fotógrafo e o que está ocorrendo diante de seus olhos. Dou uma pista: não se trata de nenhum resultado de pesquisa em ciências sociais. Olhe a foto por alguns instantes e só depois de formar uma hipótese siga com a leitura.

Tenho certeza que você leitor não imaginaria que o “negro” que corre a frente é um oficial à paisana e que ambos estão perseguindo uma pessoa que não aparece na foto. Sem essas informações o leitor corrente tenderia a imaginar que o “negro” é que estaria sendo perseguido. Uma leitura condicionada pelas informações contidas na foto (um policial corre a atrás de alguém de cor) e pela bagagem do leitor, provavelmente acostumado à violência da sociedade moderna, onde policiais costumam correr atrás de pessoas, reforçado pelo fato de ser um pessoa de cor negra, etc. Poder-se-ia seguir à analise, encontrando mais detalhes na foto, ou deduzindo possíveis leituras em função da bagagem dos diversos segmentos da sociedade. Tudo seria bem mais simples se soubéssemos que esta foto foi utilizada numa publicidade da polícia inglesa para recrutar não-brancos para os seus efetivos. No caso, a legenda que acompanhava o anúncio é que informava o contexto em que a foto foi tirada e explicitava a sua intenção” (p.173-174).

Cristiano Bodart

Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pesquisador do tema "ensino de Sociologia". Autor de livros e artigos científicos.

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