O que é desigualdade racial + video

Desigualdade racial, consequência do racismo

Por Roniel Sampaio-Silva

 

A desigualdade racial é um dos grandes problemas sociais que se agrava cada vez mais em diversas sociedades como a do Brasil e nos EUA. Neste texto entenderemos melhor o que é desigualdade social e porque este tema é importante de ser estudado na escola. Este texto é basicamente dividido em duas partes. A primeira conceitua racismo e a segunda discorrerá brevemente sobre desigualdade racial.

Breve conceito de raça

As nossas diferenças culturais cria uma distorção individual e coletiva que faz com que os indivíduos acreditem que seus padrões culturais são universais. Portanto, somos levados a crer pelo nosso grupo cultural que somos superiores. Este é o conceito antropológico fundamental chamado de etnocentrismo. 

Como se não bastasse o etnocentrismo que aprendemos com nosso grupo, aprendemos também a categorizar os outros grupos a partir de características físicas e culturais: cor de pele, modo de se vestir, modo de comer, tipo de cabelo, formato do nariz etc. Essas características que os grupos dominantes imputam arbitrariamente aos demais formam um conjunto de características e atributos que rotulam os demais grupos e lhes categorizam como como raça. Do ponto de vista da biologia, não existe raça porque nossas características genéticas e fenotípicas são desprezíveis em relação a outros animais na natureza. Raça, portanto é uma construção social que um grupo dominante impõe sobre os demais.

No caso do Brasil, nossas matrizes raciais, obviamente raça aqui entendida de forma sociológica é composta pelos colonizadores portugueses, pelos diversos povos nativos que aqui já habitavam e pelos outros diversos povos escravizados e trazidos da África. A relação entre essas três matrizes culturais, africana, indígena e europeia é absolutamente assimétrica, ou seja, um desses povos tinha muito mais poder sobre os demais e assim lhe impunham condições, rótulos e dominavam a narrativa do que cada dessas matrizes raciais representava. O imaginário de que o índio é preguiçoso, os africanos são agressivos e que os europeus são inteligentes é um longo processo histórico cuja narrativa e as condições materiais estiveram em favor dos povos europeus, dominantes.

 Todo esse processo histórico acarretou em uma distribuição desigual dos recursos, da terra, dos serviços, da autodeterminação, da história, da memória e teve consequências sociais que reverberam até hoje.

 

 Desigualdade racial

A desigualdade racial é uma consequência material e simbólica de um sistema de dominação de uma raça sobre a outra. Tal forma de dominação só é possível baseada na crença de que existe uma raça superior, merecedora e controladora dos recursos, serviços e discurso. Neste sentido, a dominação de raças se sustenta tanto no aparato da superestrutura como da infraestrutura.  A economia, o Estado, a política, as instituições de ensino, a igreja conspiram em favor dos detentores do poder, seja eles do poder econômico propriamente em si, seja dos que compartilham do pertencimento ao mesmo grupo racial dominante. Desse modo, tanto as condições econômicas materiais quanto a noção de superioridade de raça ajudam a perpetuar o racismo no qual se reverbera na forma de desigualdades raciais. 

A título de exemplo, negros e índios tiveram pouco acesso a terra no país. O infográfico do censo agropecuário de 2017 nos ajuda a ter essa noção.

desigualdade racial no campo
Créditos do infogrático Caroline Souza, Gabriel Zanlorenssi e Lucas Gomes

Negros

Apesar dos negros terem trabalhado arduamente na terra, eles estão longe de estarem na dianteira da distribuição de Terras no país. A “lei das terras” , como ficou conhecida a lei nº 601 de 18 de setembro de 1850 teve por objetivo organizar a propriedade privada no país e foi fruto da pressão das oligarquias rurais brasileiras para dificultar o acesso a terra por negros. Apesar da lei da abolição datar de 1888, a lei das terras foi criada no mesmo ano da Lei Eusébio de Queiroz que sinalizava que negros poderiam reivindicar terras.

Indígenas

Os povos indígenas apesar de já estarem aqui antes dos colonizadores ,até hoje não possui a propriedade da terra. A Constituição lhes dão a posse da terra e a legislação dá abertura para que essas áreas possam ser anexadas por grileiros e posseiros ilegais. 

Europeus e seus descendentes

Como podemos ver no infográfico os brancos possuem a maior parte da terra. Tal desigualdade é resultado de um processo histórico que lhes trouxe vantagens em seus ancestrais terem escravizado outros povos e submetê-los as condições que vemos facilmente hoje.

Considerações finais

O acesso a bens e serviços dão certas vantagens materiais que permitem que os dominantes ampliem sua reserva não apenas de capital econômico, mas também capital cultural e social. Desse modo, as regras do jogo lhes dão vantagens que os tornam mais prósperos na pirâmide social. À vista da sociedade, essas pessoas são sempre mais competentes que os demais por terem acesso a estas vantagens históricas e tal percepção simbólica amplia o racismo ainda mais.

Talib Kweli

“Nenhuma pessoa branca que vive hoje é responsável pela escravidão. Mas todos os brancos vivos hoje colhem os benefícios dela, assim como todos os negros que vivem hoje têm as cicatrizes dela.” Talib Kweli, rapper americano

 

 

 

 

Material didático

“A Construção da Igualdade — História da Resistência Negra no Brasil”, o vídeo contribui na a aplicação da Lei nº 10.639, que torna obrigatória a inclusão, no currículo das escolas, o estudo da História da África e Cultura Afro-brasileira. Trás depoimentos de acadêmicos, escritores, artistas em geral e ações do movimento negro”.

Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, vinculação partidária ou religiosa. Foi fundada no Rio de Janeiro, em 1989, por ex-internos da extinta Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem), com a ajuda de representantes da comunidade negra e do movimento de mulheres.

Roniel Sampaio Silva

Mestre em Educação e Graduado em Ciências Sociais. Professor do Programa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – Campus Campo Maior. Dedica-se a pesquisas sobre condições de trabalho docente e desenvolve projetos relacionados ao desenvolvimento de tecnologias.

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